terça-feira, maio 30, 2006

ALMINHAS DAS CORGAS - VILA CHA D'ALGODRES


As alminhas, monumentos eregidos a perpectuar tambem alguma morte, normalmente violenta, podem ser encontrados nas beiras dos caminhos, em todas as freguesias do nosso concelho. Hoje vou referir-me a um destes singelos monumentos, existente tambem na minha aldeia de Vila Cha e, a historia a ele relacionada.

Provavelmente ja pouca gente sera comtemporanea de um crime, cometido na minha terra em 1923: era vespera de casamento de Jose Gomes com Maria Jose Antunes, (familia dos "Carpinteiros")Estava o Jose a comemorar com os amigos, quando foram intrepelados pelos soldados da GNR, de forma grosseira e com sobranceria, pelo que o "Ze Gomes" lhes tera respondido que nao tinham medo deles, foi entao que num acto irreflectido, um dos guardas puxou pela sua arma e, lhe desferiu um tiro que lhe ceifou a vida na forca da juventude, quando se preparava para constituir uma nova familia.

Este acto originou uma revolta popular, tendo os guardas sido despojados das armas e espancados pela populacao da minha terra, sendo muito a custo que conseguiram fujir para a vila de Fornos. Tendo provavelmente contado a estoria a sua maneira, foi em seguida mobilizada uma companhia da GNR, da cidade da Guarda, que cercou a aldeia enquanto faziam o interrogatorio a toda a populacao, para tentar apurar quem tinham sido os agressores dos guardas, esquecendo o crime que tudo originou.

Ao fim de alguns dias, sem terem conseguido nenhuma confissao, la levantaram o cerco, pois a gente da minha aldeia num sentimento de uniao, (presentemente quase desconhecido) foi firme e, a pergunta de quem foram os agressores, respondia sempre da mesma forma: "Foi Vila Cha".

Sei que os guardas assassinos, foram depois retirados do posto de Fornos de Algodres e, imigraram para o Brasil, com medo de futuras represalias por parte dos meus conterraneos, que por essa altura eram praticamente todos primos.

Este crime ocorreu a entrada da povoacao, no Largo das Corgas e, no local foram erguidas as "Alminhas" de que publico a fotografia. Ai encontra-se esculpida uma cruz trilobada sobre um oratorio liso e uma cartela em alto relevo, tendo na base gravado o ano do funesto acontecimento: 1923. E pena que nada mais tenha gravado e, e para que os mais novos tenham conhecimento deste facto, que eu publico esta entrada.
Outrora o pequeno monumento estava colocado no meio do largo, precisamente no local do crime, mas porque procederam a obras de alargamento e, porque dificultava o transito, foi colocado junto a um muro, estando ladeado por bancos de granito.
Talvez ninguem da Junta da Freguesia leia esta entrada, mas se o fizerem, queria sugerir-lhes, que dedicassem o largo a este nosso infeliz conterraneo.

11 comentários:

Al Cardoso disse...

As visiveis gravacoes ladeando a cruz, teram sido brincadeiras de crianca, deveriam ser limpas. Tal como a foto anterior tambem esta tem ja uns anitos.

Al Cardoso disse...

Eu ainda conheci a infeliz noiva, era parente e amiga da minha familia, morreu solteira.

Joaquim Baptista disse...

Triste história. Hoje em dia dizem que retiraram poder à polícia, mas esta quando tem poder trata logo de abusar do mesmo. É quase um processo dialéctico

Neoarqueo disse...

Boa iniciativa a proposta que propõe á Junta. è ujma questão de lhes escrever, pois provavelmente podem não ler este post...

RF disse...

História trágica a que conta... Sobre a morte do filho de D. João II os factos são conhecidos e pode encontrá-los em qualquer livro de história ou em enciclopédias online. O nosso trabalho é recolher o maior número de factos possíveis para questionar a versão tradicional da história. A História institucionalizada diz-nos que Afonso de Portugal morreu acidentalmente numa queda de cavalo. No entanto, analisando os dados disponíveis, observa-se que a teoria canonizada é impossível de provar. A teoria do assassínio também não se pode comprovar, mas é mais provável que a anterior.

Chanesco disse...

Independentemente do desfecho desta hitória, triste e lamentável, há uma coisa que fica evidente:
A grande maioria dos nossos autarcas, para além de não ter sensibilidade para certos assuntos(refiro-me às escolhas toponímicas), não conhece a história da sua terra.
Quase apostava se na recolocação do monumento, e a ver pela foto, foi apenas tido em conta o valor religioso, tendo sido esquecido, talvez por desconhecimento, o valor simbólico da tragédia.

Alex disse...

Bem pensado. Se assim foi é uma proposta válida.
Mas, mesmo que o Largo das Corgas não passe a designar-se de José Gomes, fica aqui registado este magnífico apontamento que mostra a valentia e união das gentes de Vila chã.
Saudações

Klatuu o embuçado disse...

Veja onde chega a burrice e a incapacidade de pensar...

http://gardenofdelight.blogspot.com/

O Micróbio II disse...

O mais curioso é que muitas vezes são histórias trágicas como esta que dão "riqueza" de passado a algumas terras...

Orlindo Jorge disse...

Mais uma achega para a história das alminhas em Portugal. E que triste história. As alminhas que apresentei no N.F. já ninguém tem memória do seu propósito.

Estas Alminhas das Corgas são de boa pedra e parece-me terem um espaço reservado a uma legenda imediatamente abaixo do nicho. Não haverá por lá alguma inscrição?

Al Cardoso disse...

OJ:
Nao, nao ha la nenhuma inscricao e, nao a tendo colocado aquando do triste acontecimento, tampouco creio que a deva ter presentemente.
Poderia era haver uma pequena placa perto das alminhas, a lembrar aos vindouros essa infausta efemeride, ainda hei-de lembrar isto a junta.