
As alminhas, monumentos eregidos a perpectuar tambem alguma morte, normalmente violenta, podem ser encontrados nas beiras dos caminhos, em todas as freguesias do nosso concelho. Hoje vou referir-me a um destes singelos monumentos, existente tambem na minha aldeia de Vila Cha e, a historia a ele relacionada.
Provavelmente ja pouca gente sera comtemporanea de um crime, cometido na minha terra em 1923: era vespera de casamento de Jose Gomes com Maria Jose Antunes, (familia dos "Carpinteiros")Estava o Jose a comemorar com os amigos, quando foram intrepelados pelos soldados da GNR, de forma grosseira e com sobranceria, pelo que o "Ze Gomes" lhes tera respondido que nao tinham medo deles, foi entao que num acto irreflectido, um dos guardas puxou pela sua arma e, lhe desferiu um tiro que lhe ceifou a vida na forca da juventude, quando se preparava para constituir uma nova familia.
Este acto originou uma revolta popular, tendo os guardas sido despojados das armas e espancados pela populacao da minha terra, sendo muito a custo que conseguiram fujir para a vila de Fornos. Tendo provavelmente contado a estoria a sua maneira, foi em seguida mobilizada uma companhia da GNR, da cidade da Guarda, que cercou a aldeia enquanto faziam o interrogatorio a toda a populacao, para tentar apurar quem tinham sido os agressores dos guardas, esquecendo o crime que tudo originou.
Ao fim de alguns dias, sem terem conseguido nenhuma confissao, la levantaram o cerco, pois a gente da minha aldeia num sentimento de uniao, (presentemente quase desconhecido) foi firme e, a pergunta de quem foram os agressores, respondia sempre da mesma forma: "Foi Vila Cha".
Sei que os guardas assassinos, foram depois retirados do posto de Fornos de Algodres e, imigraram para o Brasil, com medo de futuras represalias por parte dos meus conterraneos, que por essa altura eram praticamente todos primos.
Este crime ocorreu a entrada da povoacao, no Largo das Corgas e, no local foram erguidas as "Alminhas" de que publico a fotografia. Ai encontra-se esculpida uma cruz trilobada sobre um oratorio liso e uma cartela em alto relevo, tendo na base gravado o ano do funesto acontecimento: 1923. E pena que nada mais tenha gravado e, e para que os mais novos tenham conhecimento deste facto, que eu publico esta entrada.
Outrora o pequeno monumento estava colocado no meio do largo, precisamente no local do crime, mas porque procederam a obras de alargamento e, porque dificultava o transito, foi colocado junto a um muro, estando ladeado por bancos de granito.
Talvez ninguem da Junta da Freguesia leia esta entrada, mas se o fizerem, queria sugerir-lhes, que dedicassem o largo a este nosso infeliz conterraneo.