sexta-feira, outubro 21, 2005

ENFIAENS, INFIDELAS, OU INFIAS


A hoje freguesia de Infias foi uma vila e concelho, desde data incerta mas pelo menos desde principios do seculo XVI e ate 1836, data desde a qual foi incorporada no concelho de Fornos de Algodres. E uma muito antiga povoacao habitada pelo menos desde o seculo XIII, pois ja em 1248 ha referencias a: "Goncalvvs Menendi", "Petrus Pelagii" e "Diago Martini" seus habitantes, no entanto por essas alturas nao era ainda concelho, desconhecendo-se se estaria incluida no termo de Algodres ou no de Fornos. O que se sabe e que nunca possuiu carta de foral e sempre se regeu pelos forais do concelho de Algodres.

O povoamento nesta freguesia datara pelo menos do Calcolitico, datando desse tempo embora ainda nao escavados, vestigios no monte da Raza. Relativamente perto tambem embora ja no termo de Algodres, existem vestigios arqueologicos ja de certa forma documentados da epoca do Neolitico, na quinta da Assentada.

Foi no entanto durante a Romanizacao e depois do abandono do castro da Raza, ja na planura que tera tido bastante desenvolvimento, havendo quem afirme que aqui existiu uma "civitas" ou "villae" romana. Tem sido encontrados (embora sem nunca se ter feito nenhuma escavacao a serio) varios vestigios: moedas de varios imperadores, partes e capiteis de colunas, pedras de moer, lapides, etc.. Tambem e certo aqui se terem cruzado ou bifurcado duas estradas romanas: uma que de Viseu se dirigia a Egitanea por "Linhares" e outra da referida cidade que ia a Merida por "Trancoso". Ha tambem vestigios desse tempo nas Porviegas e na quinta do Godinho.

A darmos credito ao padre Luiz de Lemos (LEMOS edm s/d) a origem do toponimo "Infias" derivaria da palavra latina: Infidelas que com o tempo tera perdido as consoantes "d" dando Infielas e o "l" resultando: Infieas que depois tera evoluido para Infias, e muito provavel que tenha razao, mas certo e que em 1525 no cadastro da populacao do reino mandado realizar por D. Joao III era referida como vila e concelho com o nome de "Emfiaens". Ambas as palavras tem o mesmo significado, e designam um grupo de infieis ou pessoas nao convertidas. Esta designacao ter-lhe-a sido dada pelos cristaos e estes infieis tanto poderiam ter sido mussulnamos, judeus ou qualquer outra religiao que nao a crista.

O mesmo padre Luiz afirma tambem que a igreja de S. Pedro data da epoca romana e sera dos primeiros tempos do cristianismo, afirmando que era costume nesses tempos dedicar a S. Pedro as igrejas situadas junto cruzamentos de estradas romanas. Pode muito bem ser que tenha razao, no entanto o documento mais antigo conhecido em que aparece mencionada esta igreja data de 1320, em que no reinado de D. Dinis foi taxada para a guerra com os mouros em 10 libras. Dai somos levados a concluir que ja existia antes dessa data, mas nao creio que date da epoca romana. Havendo na fachada desta igreja uma pequena lapide votiva do deus Mercurio, ha quem afirme tambem que este templo foi erguido no sitio em que tera havido outro aquele deus romano, nao existem nenhumas evidencias que o confirmem e o mais provavel e que essa lapide tera existido junto a estrada romana (Mercurio era o patrono dos viajantes) e para construcao da igreja tera sido aproveitada, no entanto nunca se podera descartar totalmente a primeira hipotese.

Pelas evidencias apontadas as origens do toponimo "Infias" que sera pos-romano, tem a ver com o facto desta povocao originalmente ter sido formada por gente que nao professava a fe crista. Se eram judeus ou mouros ou de outra religiao nao sabemos, mas devido ao facto de se situar junto a estradas romanas bem poderiam ter sido judeus (eles ja existem na peninsula Iberica desde pelo menos o seculo VI) e como eles eram maioritaramente artezaos, mercadores e tax colectores, faria todo o sentido que residissem junto a boas vias de comunicacao. De outras religioes nao existem nenhumas evidencias e mussulmanos tambem nao creio que fossem pela simples razao de que esta regiao era muito mais uma regiao de fronteira e nao se conhecem nenhuns vestigios de povoamento por eles organizado.

6 comentários:

Anónimo disse...

saudações.
Só hoje pude ler o vosso pedido, o meu avô chamava-se Germando da Costa e foi tamanqueiro na aldeia de infias, foi-lhe passado oficiio por outro senhor de nome Luis Neto.
Continuem com o bom trabalho.

Al Cardoso disse...

Bem haja e saudacoes para a minha terra adoptiva: INFIAS, um abraco para a tua mae da minha esposa.

Anónimo disse...

Desde que esta manhã descobri no blog "Algodres e suas terras" acho que é assim que se chama, uma foto julgo que tiradad de Infias, tenho andado por aqui lendo, até que finalmente cheguei, quase 3 anos depois de ter sido escrito, a um post sobre a aldeia de Infias.Tem sido bem interessante este passeio e dou-lhe os meus parabéns.Como curiosidade digo-lhe que conheci o avô e pai do anonimo que deixou o 1º comentário, o Ti Luis Neto como era chamado fazia-me todos os anos, nas férias, uns tamancos com um design que eu propria lhe levava, lembro de uns à gladiador como agora se usam, com umas fitas que atavam pela perna acima. Mais tarde o Ti Germano também fazia tamancos, no mesmo sitio, numa casa no cruzamento da estrada que vem de Fornos e bifurca para Infias e para Algodres, não sei se é assim ainda. O Ti Germano morava numa casa perto da minha avó.

Gostei de saber a história de Infias, parte dela já conhecia

Enviei-lhe um mail mas o texto não foi na totalidade, não percebi porque só aceitava 300 caracteres...

Anónimo disse...

esqueci de dizer, lembro-me do cruzeiro tal e qual se vê na foto e que referi no comentário feito esta manhã!
A foto foi tirada de um penedo enorme que existia atrás, não sei se ainda lá está ou a sua pedra foi aproveitada para fazer casas...

Al Cardoso disse...

Cara Paula:

Tenho a informa-la que o tal penedo que era o ponto mais alto da Serra da Esgalhada, ja nao existe foi partido e no seu lugar existe hoje uma residencia, isto aconteceu com bastante pena minha e de muitos outros "infienses".

Um abraco dalgodrense.

Anónimo disse...

Caro A. Cardoso

Fiquei muito contente por ter-me respondido e como as conversas são como as cerejas (eu sei que não é bem assim) lembrei-me de lhe contar, não sei se já sabe, as pedras que se vêm na foto foram originadas pela procura de pedaços de volframio e berilo, lembro-me bem de tudo escavacado no final dos anos 50. Julgo que a procura, não se pode dizer exploração, foi feita anteriormente no pós ou durante a 2º guerra. O berílio era utilizado no fabrico do aluminio, empregue na fuselagem dos aviões e deu muito dinheiro a ganhar aqueles gentes.
Naquela época dos 50, encontravam-se especies minerais lindissimos, em especial formações de quartzo ametista, cristalino e leitoso cristalizados.
Saudações e um bem haja
Vou voltando...