segunda-feira, agosto 02, 2010

O Arco de Sobral Pichorro! (Novamente)

Arco do "Soveral" (Sobral Pichorro)
A primeira vez que neste blogue escrevi sobre o arco romanico, existente na rua principal de Sobral Pichorro no municipio de (Fornos) D'Algodres e que serve de entrada para algumas casas, sugeri que devido ao facto de se encontrar nele um escudo com uma cruz em alto-relevo, poderia ser a entrada de casas de judeus convertidos, os chamados "cristaos-novos" no seculo XVI e seguintes.
Que no Sobral, antiga aldeia que ja existia no seculo XIII, com o toponimo Soveral, tenha havido judeus esta mais que comprovado, em documentos existentes no ANTT, referentes a processos da inquisicao e que referem os apelidos: Rodrigues, Goncalves, Fernandes, Matos, Proenca e Lucena.
 E por demais sabido, que tambem houve muitas familias judaicas que se converteram sinceramente, durante epocas ainda anteriores ao "edito de expulcao" de D. Manuel I em 1496. Enquanto houve outras que conseguiram iludir sempre a inquisicao e nunca foram processados, desses restando ainda hoje uma pequena comunidade em Belmonte.
Creio que e neste presuposto, que encaixa a familia que foi prorietaria das casas servidas pelo arco!
Como para alem do escudo, nunca conseguir descobrir mais nenhuma evidencia, nem nenhum documento escrito, mais tarde comecei a pensar, que este arco tivesse alguma relacao com a capela de Santo Cristo, capela de fundacao romano-gotica, que se encontra relativamente perto, pelo facto de nessa capela se encontrar ja bastante erruido um escudo que se nao e igual e muito parecido.
Ate julguei, que estivesse ligado a algum cavaleiro Templario, embora este escudo seja diferente dos mais usuais destes cavaleiros, mas encontrei um bastante parecido! 
Recentemente recebi um comentario, de um descendente dos antigos proprietarios dessas casas, informando-me que entre as actuais casas ja bastante modificadas, existiu na area frontal ao arco, uma casa muito antiga e que foi destruida por um incendio em 1956. As suas ultimas proprietarias foram as senhoras Maria e Emilia Pires de Andrade, sendo a primeira sua avo.
Mais dizia, que ainda em crianca ai residiu e que sim, a sua familia era de "cristaos-novos", gente muito respeitada e com ligacoes familiares antigas, a um alcaide que se encontra sepultado na igreja de Nossa Senhora da Lapa em Sernancelhe. Alem disso que a sua familia tinha varios ramos, nas povoacoes vizinhas, que as outras casas servidas pelo arco foram tambem de familiares e que a familia Pires de Andrade, era muito conceituada, nas cidades de Viseu, Pinhel e Guarda!
Como devem calcular fiquei radiante com estas informacoes, que me vieram dar certezas sobre suspeitas minhas, ficando a fazer votos, que o meu comentador que devido aos meus escritos, ficou mais curioso sobre as suas origens, me possa enviar mais alguns dados.
Para finalizar o que ja vai longo, quero fazer algumas consideracoes:
 - Os judeus quando convertidos sinceramente, devido aos seus conhecimentos, ou riqueza, foram muitas vezes pelos nossos reis elevados a nobreza, pelo que este caso nao e de admirar e estes se pudessem ufanar a ter escudo brazonado e nele colocarem o simbolo da sua nova fe. Alem disso podera explicar-se mais facilmente a sua
ligacao a um fidalgo de apelido "Soveral" (coincidencia ou nao!) sepultado na Senhora da Lapa!
  - Era mais que usual os judeus mais tarde "cristaos-novos", terem as suas casas proximas uns dos outros e as vezes ate com ligacoes internas entre elas, como e este caso!
  - O facto desta familia com apelidos Marques, Pires, e Andrade, nao ter sido investigada pela inquisicao, podera indicar que se tenham convertido sinceramente, ou ja eram cristaos antes deste tribunal ser instituido em Portugal. Ou que devido ao isulamento destas casas, com a rua por este muro arcado, que teve outrora o seu portao, nao era conhecida nenhuma actividade judaica, por parte desta familia, ou ate devido a consideracao que gozavam, nao ter havido nenhuma delacao.
  - As ligacoes a familias da Muxagata, (onde tambem encontrei pelo menos uma familia judaica) Aldeia Nova, Fornotelheiro, mas e principalmente com familias de Pinhel, Guarda e Viseu; cidades em que sao conhecidas judiarias importantes, vem indiciar familias de comerciantes e negociantes, que se deslocavam por toda a nossa Beira. Alem disso e mais que conhecido, que os judeus de uma maneira geral casavam uns com os outros.

2 comentários:

NS disse...

Amigo Albino,
Esta entrada traz informações muito interessantes sobre os antigos proprietários do imóvel, que constituem uma via de investigação que poderá conduzir a conhecimentos importantes.
A simbologia do arco estará provavelmente relacionada com quem o mandou edificar. O escudo parece ser contemporâneo do arco (ainda que, em tese, a pedra em que está gravado pudesse ter sido reutilizada ou acrescentada posteriormente em substituição de outra) mas, sendo a época de construção desconhecida e ao que tudo indica bastante recuada (medieval?) julgo que não será fácil estabelecer essa relação.
Por enquanto não conheço quaisquer elementos que ajudem a esclarecer a questão. Na hipótese de se tratar de um brasão, com uma cruz firmada e uma bordadura, ainda não o consegui identificar / relacionar com Sobral Pichorro.
Desejo-lhe continuação de frutuosa investigação!
Um grande abraço do,
NS

Al Cardoso disse...

Eu tambem partilho que o escudo e da mesma antiguidade do resto do arco.
Pelo que julgo nao estar muito longe da verdade situar a sua construcao nos finais do romanico, que na nossa regiao em muitos casos dataram dos seculos XIV e ate XV.
Estou convencido que esta familia se tera convertido ainda antes do "Edito de Expulcao", mas pelo facto de ainda em meados do seculo XX, presistir na familia a relacao a "cristaos-novos", indiciara que embora cristaos ainda mantinham alguns rituais judaicos.
Vou ver se consigo mais algumas informacoes, mas vai ser dificil pois o meu comentador, nao deixou contacto.